It's my only rock'n roll



5 MOTIVOS PARA ENTENDER PORQUE 1965 FOI UM BOM ANO PARA COMPRAR DISCOS


 















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O negro é lindo. Jorge Ben (1971)

Muitas pessoas do meio musical dizem que a pior coisa para Jorge Ben foi o sucesso estrondoso (e inesperado) da música “w/Brasil”, um caso danoso de superexposição, mas que o apresentou a um novo público como Jorge Benjor. E muitos críticos musicais rejeitam sua obra por causa da música chata que fazem os seguidores do “samba rock”, que consideram Jorge Ben(jor) a eminência parda do gênero. Fred Zero Quatro modulou toda a harmonia do som do Mundo Livre a partir dos discos clássicos de Ben nos anos de 1970. Por isso, quando quiser saber quem tá certo ou errado, ouça O negro é lindo e descubra.

Embora consagrado como o rei do ritmo e da música festiva, poucos ouvem as músicas mais melancólicas e reflexivas de Jorge Ben. E as melhores estão nesse disco. Ouça o arranjo de cordas em “Porque é proibido pisar na grama”, sinta a pressão percussiva de “Cassius Marcello Clay”, ria com a cantada mais furada de um homem para uma garota em “Rita jeep”, descubra porque “enquanto existir Deus no céu, urubu não come folha” em “Comanche”, e entenda o que é paixão platônica ouvindo “Palomaris”.

Depois disso, pode chamar o síndico.


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Picassos Falsos - Supercarioca (1988)


            O final da adolescência é arriscado para qualquer um. Começamos a escolher nossos caminhos, não nos identificamos com os familiares e, por contrapartida, mais precisamos da confiança deles. Vivendo esse período, comprei o disco Supercarioca. Eu o ouvia pela manhã, depois do almoço e à noite antes de sair. Sempre alto. Alguns vizinhos, inclusive, já cantavam algumas músicas.   
            A crítica musical da época não valorizou a banda. Todas as atenções e elogios voltados para a Legião Urbana, Titãs, Paralamas do Sucesso, grupos bem sucedidos comercialmente. Ou então para bandas como Fellini, que tinha o mesmo discurso estético dos Picassos – fundir a tradição do samba com o rock -, mas com harmonizações influenciadas pelo rock inglês  dos 80’s.  Além disso, os Picassos Falsos eram explicitamente cariocas, quando a crítica era explicitamente paulista.  Para piorar a situação da banda, as rádios praticamente não tocaram músicas do disco – salvo “Rio de Janeiro” quando o álbum foi lançado – pouco para competir com o Globo de Ouro e “Faroeste Caboclo”.
            Eu comprei o vinil no início de 1990. Na hora certa, porque começava a curtir e a sair com garotas. Havia decidido que não faria o vestibular, e nem prestaria serviço militar. Ninguém na minha família concordava, mas estava tudo certo desde que tirasse a carteira de trabalho. É claro que a tirei, com a foto 3x4 da minha dispensa militar. No colégio, passava mais tempo escrevendo e lendo poemas nos vários eventos, do que estudando para as provas. Para alguns professores mais severos, eu estava me tornando um inútil.
            A música dos Picassos Falsos expressava meu estado de espírito: euforia de viver. Nesse sentido, era um refúgio, um oásis, um aprendizado. O violão e a guitarra de Luis Gustavo vinham de outra galáxia. As letras de Humbert Effe cortavam o tecido do realismo com a faca da alegoria. Todos estavam quebrados, sem poupança, Renato Russo cantava “os meus amigos estão procurando emprego”, e no fim o “supercarioca” era “mais um corpo crivado de balas perto do Cristo Redentor”.
            Depois desse disco, a banda se dissolveu, segundo os relatos, em um show tumultuado em Juiz de Fora. Humberto Effe fez um cd solo brilhante em 1995. A banda voltou no início dos anos 2000, gravou um cd que nunca ouvi, acabou de novo e, segundo os boatos, podem voltar a qualquer momento.



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 The Rolling Stones - Black and blue (1976).

Entre os discos dos Rolling Stones, este talvez seja o mais menosprezado. Keith Richards disse que foi um "album apenas para testar guitarristas". Não há nenhum clássico absoluto aqui. Mas este foi o primeiro disco dos Stones que comprei, quando estava muito a fim de conhecer a discografia da banda, e este é um dos méritos de Black and blue: não decepciona o neófito. Se tivesse começado por Undercover ou até mesmo Some girls (na minha opinião um album supervalorizado), teria deixado a banda para lá sem nenhuma satisfação.

O lado A começa com "Hot stuff", a voz potente de Mick Jagger, o riff aberto de Keith, a firmeza do baixo de Bill Wyman e a levada funk de Charlie Watts. Esta música antecipa a clássica "Miss you", porém com mais crueza e improvisação. "Hand of fate", a faixa seguinte, é Rolling Stones padrão anos 70. O reggae "Cherry oh baby" é reverente ao gênero e, por fim, a chatinha "Memory hotel".

É no lado B que a coisa pega fogo. "Hey negrita" tem a assinatura musical de Ron Wood como guitarrista, seu solo é tosco e lírico. "Melody" é uma parceria com Billy Preston, um blues maravilhoso, solto e chapado. "Fool to cry" é uma balada matadora sobre paternidade e separação. "Crazy mama" fecha o album com os riffs fumegantes de Richards, e Jagger na guitarra base fazendo o feijão com arroz. 

Fim. Acabou. Oito faixas. Os Stones não tinham tempo a perder no estúdio, tentando achar um motivo para não efetivar logo Wood como substituto de Mick Taylor. A turnê americana já estava agendada. Isso é outra coisa que gosto neste disco: enquanto as grandes bandas gastavam horas no estúdio para gravar discos chatos, os Stones gravaram um disco improvisado e urgente.  Um disco imperfeito e fotografado por uma brasileira.  



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