IV
Ela dança em transe
no clube dos corações partidos
gotas douradas estouram no chão
do seu copo de uísque misturado.
No balcão o teórico poeta
olha com desprezo a pista
“não se faz poemas com sentimentos”
mas a explosão mallarmaica não é suficiente
não resolve todo o problema:
“como encaixar safada no meu verso sáfico?”
Ao longo do corredor
as mulheres vêm e vão cheirando.
Ao fundo sentado nas sombras
o homem separado
corpo vazio, copo cheio
a voz grave da juíza ainda ressoa
a severa sentença ainda corta sua cabeça.
O jovem dandi se movimenta rápido
estilo Michael Douglas superautoconfiante
puro século XXI
“político, arisco, e meticuloso”.
Trancado no banheiro o velho poeta marginal
sem medida, cem leitores
rabisca na parede o verso final
“tudo vale a pena quando o baseado não é pequeno”
enquanto a vida escorre pelos pulsos abertos
há tempo para uma chave-de-ouro:
“a boa poesia se escreve com sangue”.
Cheirosas
as mulheres vêm e vão disfarçando
e só ela ainda dança
mortíferas gotas de cristais brilham no ar.
Lá fora o segurança negro
analisa o lourinho louco chapado entre os carros
do outro lado da rua
a faca espera.
Esse é um ótimo poema para uma manhã de segunda.
ResponderExcluiradorei !
Cara, como é que tu consegue esta leveza?
ResponderExcluirTou bem impressionado