Trovadores elétricos ou Transformador de energia
Trovadores
elétricos é um narrador de cenas. As cenas são curtas, quiçá grossas.
Sempre numa sintonia fina de amplitude modulada. Sempre numa frequência
alucinada que faz a mente flanar fora do spleen. A superfície é áspera e a
matéria é bruta. É na flor da pele que se roça a pólvora pra queimar a retina e
fixar a cena.
A cena nunca é grave. Todos os
boçais e imbecis foram contemplados sem condescendência. Todos os polidos e
perspicazes foram poupados sem cerimônia. O lugar ao sol não deixa margem pra
sombra. O possível significa a morte do limite. Uma surpresa acolhedora e tensa
nos diverte a contragolpe – nunca a contragosto. Com poder e com foder, em
linha reta, com mão dupla, ou com a única mão que vai e vem, o polímero se
esgueira e ricocheteia sem tocar a sola dos sapatos ou a papila gustativa.
O caimento da língua martela a
gota de saliva e nunca mata a sede. O céu da boca é revisitado a cada verso e
nunca redime os pecados capitais. A garganta engole a convulsão e puxa o
gatilho do grito atravessado. Sai música. Sai clipe de música. Sai cena de
clipe de música. Sai fumaça de gelo seco e sopro de dragão. A dialética do
poeta é um fotograma em mosaico segurado com esmegma e recolorido com resina de
tabaco. Todos os humores corrosivos são repugnados sem sublimação.
No fotograma cabem todos os
infames quem voam, andam ou rastejam e que foram rejeitados pelo lirismo de
roda presa. Trovadores elétricos
desce o morro acelerado sem pena de quebrar mola ou de beijar parede. Bate de
cara no muro das lamentações pra escarnecer do bolerão mal passado que
embrulhou o estômago de quem chora a falta de uma cena. Onde quase todo mundo
vê nada, ele nada de braçada e mostra a cena escancarada bem debaixo do nariz.
Nas lixeiras do lirismo tem sempre um bom naco de qualquer coisa pra distrair o
paladar e vencer a fome. Ele usa o lixo debaixo do tapete pra fazer um tapete
voador carregado de ogivas prontas pra explodir Manhattan.
Trovadores
elétricos é um transformador. Ele transforma corrente elétrica em
frequência poética; faz da potência um lugar saturado; usa a língua como açoite
de palato; ilumina o breu das passagens subterrâneas que flutuam na nossa
frente e tira do naco de qualquer coisa um bom gosto de banquete. Tá servido?
Saravá!
Julio Satyro
Poeta petrônico
a seguir: um poema novo (porque pedras que rolam...)
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