quinta-feira, 18 de julho de 2013

A fortuna dos críticos - Julio Satyro


Trovadores elétricos ou Transformador de energia


Trovadores elétricos é um narrador de cenas. As cenas são curtas, quiçá grossas. Sempre numa sintonia fina de amplitude modulada. Sempre numa frequência alucinada que faz a mente flanar fora do spleen. A superfície é áspera e a matéria é bruta. É na flor da pele que se roça a pólvora pra queimar a retina e fixar a cena.

A cena nunca é grave. Todos os boçais e imbecis foram contemplados sem condescendência. Todos os polidos e perspicazes foram poupados sem cerimônia. O lugar ao sol não deixa margem pra sombra. O possível significa a morte do limite. Uma surpresa acolhedora e tensa nos diverte a contragolpe – nunca a contragosto. Com poder e com foder, em linha reta, com mão dupla, ou com a única mão que vai e vem, o polímero se esgueira e ricocheteia sem tocar a sola dos sapatos ou a papila gustativa.

O caimento da língua martela a gota de saliva e nunca mata a sede. O céu da boca é revisitado a cada verso e nunca redime os pecados capitais. A garganta engole a convulsão e puxa o gatilho do grito atravessado. Sai música. Sai clipe de música. Sai cena de clipe de música. Sai fumaça de gelo seco e sopro de dragão. A dialética do poeta é um fotograma em mosaico segurado com esmegma e recolorido com resina de tabaco. Todos os humores corrosivos são repugnados sem sublimação.

No fotograma cabem todos os infames quem voam, andam ou rastejam e que foram rejeitados pelo lirismo de roda presa. Trovadores elétricos desce o morro acelerado sem pena de quebrar mola ou de beijar parede. Bate de cara no muro das lamentações pra escarnecer do bolerão mal passado que embrulhou o estômago de quem chora a falta de uma cena. Onde quase todo mundo vê nada, ele nada de braçada e mostra a cena escancarada bem debaixo do nariz. Nas lixeiras do lirismo tem sempre um bom naco de qualquer coisa pra distrair o paladar e vencer a fome. Ele usa o lixo debaixo do tapete pra fazer um tapete voador carregado de ogivas prontas pra explodir Manhattan.

Trovadores elétricos é um transformador. Ele transforma corrente elétrica em frequência poética; faz da potência um lugar saturado; usa a língua como açoite de palato; ilumina o breu das passagens subterrâneas que flutuam na nossa frente e tira do naco de qualquer coisa um bom gosto de banquete. Tá servido?

Saravá!


Julio Satyro
Poeta petrônico


a seguir: um poema novo (porque pedras que rolam...)

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