A crueldade de Anderson Pires
Bastaria dizer que Anderson Pires
é um trovador cruel.
Bastaria dizer que crueldade é
cantar palavras sem rodeios.
Bastaria dizer que palavras sem
rodeios nos presenteiam com os mais puros e amorosos venenos de suas possíveis
e impossíveis amplitudes elétricas.
Bastaria dizer que palavras sem
rodeios são justamente aquelas que rodam o sangue e nos fazem saber, sem nunca
saber ao certo, onde se perdem e se encontram a miséria de toda moral, a
entrega amorosa ao desconhecido, a fugacidade da rua, a (in)segurança de uma biblioteca
básica, a paranóia corrosiva dos fascismos cotidianos, a distante e fria ironia,
o afeto e o egoísmo, o crime e o castigo, a engenharia de uma vida confusa, a
homenagem desconfiada a inimigos entre amigos, e vícios-versos.
Bastaria dizer que Anderson Pires
parece saber: a boa reputação de malditos versos livres não se livra facilmente
da glória e da herança de sua bendita e má repetição.
Bastaria dizer que Anderson Pires,
com toda a legião de seus demônios elétricos, assume a grandeza de se fazer
política para além do alcance confortável de um deus e um diabo (política entre,
não sobre, parentes e serpentes).
André Monteiro
(Anti)Poeta
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