Viver,
como um verso instantâneo
Ao
ler “Trovadores Elétricos”, um instante imediato nos leva a dizer que Anderson
Pires dialoga com os beats, com os marginais,
com os cânones da poesia brasileira e, sobretudo com um lirismo rock’n roll
típico de quem entende a poesia como ritmo.
Poderíamos
dizer que ele, portanto, se aproxima de outros poetas “jovens” em voga na
atualidade. Daí me sinto instigado a pensar o que difere o poeta em questão – e
sua obra - dos demais, em sua maioria.
O
que difere um poeta cheio de “influências” e “referências” de um bom poeta?
Talvez seja simples o exercício: retire da sua obra as tais “influências” e
“referências” e veja o que sobra. Se nada sobra, não temos um bom poeta. Do
contrário, temos assunto.
Anderson,
como bom leitor e estudioso, traz consigo uma bagagem de ferramentas poéticas
que o permite operar de forma tranqüila e sagaz seus poemas. Daí a relação
crítica e sólida com suas referências. A “cor local” da “festa-rock” e do
universo acadêmico em sua dualidade “rebeldia-conservação” onde Anderson se
forja como poeta (sou um homem
inteligente, sem preconceitos, com um copo seco na mão).
A
alternância entre o olhar introspectivo (melhor
viver fora do alcance de Deus e do Diabo) e a reflexão mais complexa que
extrapola a janela do poeta (com
poesia/cuspimos fogo sobre São João Del Rei) ganha firmeza na visão crítica
e eu diria quase cínica – sem aceitar de forma passiva o elemento pejorativo da
palavra (um poema é composto para ser
decomposto/é uma fórmula, uma solução, uma política).
“Trovadores”
é um livro que mostra a que veio e explica por que era tão esperado. Congrega o
tal feeling em seu sentido mais sério
e fornece ao leitor uma obra consciente.
Por outro lado a dualidade “poesia-rebelde” x “poesia-projeto” torna-se
mais palatável em um primeiro momento para aqueles que já conhecem o autor há
mais tempo. Mas isso é um outro papo e pode ser apenas uma nota que dê conta da
ambição deste interlocutor sobre a obra de um poeta-amigo.
Usando
uma metáfora pobre, mas de qual já fui vítima em outros campos que não a
poesia, diria que Anderson em “Trovadores” constitui um canhão poderoso pronto
para disparar. O alvo é merecedor de tamanho arsenal. O desafio que se impõe
naturalmente é que assim continue e nunca use o canhão para atirar em moscas.
Não
há materialidade de linguagem sem ambição e ousadia. Isso está mais do que
provado em “Trovadores” (o crítico
profissional é uma perpétua conversação entre Pascal e Montaigne). Sendo
assim, o livro vitorioso a meu ver, ressuscita a questão de Heloisa Buarque de
Holanda há quase 40 anos e que retorna como fantasma:
Entretanto, a aparente facilidade
de se fazer poesia hoje pode levar a
sérios equívocos. Parte significativa da chamada produção marginal já mostra
aspectos de diluição e de modismo, onde a problematização séria do
cotidiano ou a mescla de estilos perde
sua força de elemento transformador e formativo, constituindo-se em mero
registro subjetivo sem maior valor simbólico e, portanto, poético.(Apresentação do livro 26 poetas hoje, 1975)
“Trovadores”
merece e deve ser lido. Em tempos de “facilidade de se fazer poesia” nos brinda
com um horizonte bem interessante.
Tiago Rattes de Andrade
Poeta. Suburbano.
a seguir:
Fred Spada
a seguir:
Fred Spada
Nenhum comentário:
Postar um comentário